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3 de maio de 2009

De Luanda ao Uige

Na Sexta feira, dia 1 de Maio, dia do trabalhador, fomos a mais um "pequeno" passeio (+/-700km) desta vez à cidade do Uíge. Esta cidade, que foi chamada Vila Marechal Carmona, de 1955 até 1975 é a capital da província com o mesmo nome: Uíge.
A província do Uíge é uma das províncias mais a Norte de Angola, estendendo-se até á fronteira com a RDC antigo Zaire. Em Angola, viajar para Norte é sinal de encontrar zonas mais verdes e florestas densas com árvores enormes e nisso esta viagem não foi excepção.

Devo referir que a estrada está em muito bom estado, com bom piso e no global bem sinalizada. Mais perto do Uíge a sinalização é por vezes absurda, existem pequenas aldeias cheias de sinais de obrigação de seguir em frente ou virar à direita para a estrada de terra. À chegada ao Uíge existem sinais de stop na estrada principal e ao mesmo tempo na estrada que cruza com a principal. Mas são pequenos detalhes que não põem em risco a circulação, podem no máximo fazer parar algum forasteiro mais respeitador das regras.

Por falar em forasteiros fiquei com a ideia que por aquelas paragens não circulam muitos brancos, primeiro porque o pessoal do controle junto ao rio Dange, no regresso se lembrava de nós como se andássemos com um carro fluorescente, depois porque ao pararmos para tirar a foto a um estranho ninho, de um qualquer insecto, as senhoras da aldeia próxima que vieram falar connosco e nos explicaram que os insectos do ninho mordiam, ficaram muito admiradas ao verem a minha mulher. Aquela expressão de admiração "...olha tem uma mulher..." e o comentário feito com a cara colada no vidro, como se nós não estivéssemos ali, ou não percebêssemos o que diziam "... é tão bonita ..." deixaram-nos a pensar à quanto tempo não veriam uma mulher branca?

Pelo caminho, além das árvores com um porte impressionante, fiquei surpreendido pela quantidade de bananeiras que fomos encontrando, em tudo quanto é canto, no meio da floresta. Vêem-se também muitas abóboras e ginguba (para os menos habituados é assim que se chamam os amendoins).
Para meu desalento não vi café... muito me custa assumir isto. Só depois da viagem, é que me foi dito que no meio da floresta há mais café que bananas, e acreditem as bananeiras são mais que muitas. A única coisa que me serve de consolo na questão do café é que eu nunca vi a planta do café na minha vida e isso serve de atenuante, mas pelo que me foi dito é grave não ter visto uma sequer... mas enfim fica para outra oportunidade.

Voltando ás coisas boas, as bananas, as bananas que comprámos no mercado perto de Ucua, fizeram-me lembrar uma frase "uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade". Nós habituamo-nos de tal forma ao sabor das coisas colhidas a milhares de quilómetros de distância e conservadas artificialmente, que corremos o risco de nunca sabermos qual o verdadeiro sabor delas... belas bananas aquelas!

De volta à viagem, em Vista Alegre, uma aldeia ou pequena vila não sei, encontrámos uma bomba de combustível e decidimos abastecer. Páro na bomba, pergunto se tem gasolina - sim tem - responde o homem da bomba aterefado a abastecer um outro jipe com uma lata de leite Nido e uma garrafa de água cortada ao meio. Espero pacientemente a minha vez, e saboreio o momento. Estamos numa bomba de gasolina, onde o combustivél está em tanques de plástico de cinco mil litros e é retirado destes tanques com a tal lata de Nido para um balde (daqueles da tinta) de 20 litros. Como funil é usada uma garrafa de água de 1,5l com uma chave de fendas na boca para empurrar a válvula que existe em alguns carros mais modernos. Troco... não tem troco. Depois lá negoceio e consigo receber cem kwanzas e deixo os outros cem de gorjeta, valor baixo para uma tão valiosa experiencia.

Logo em Vista Alegre encontramos postes de iluminação publica com paineis solares acopolados, esta solução vai-se repetindo noutra localidades e mesmo na cidade do Uíge. Do meu ponto de vista (não tenho noção dos custos) parece uma boa solução, num pais onde os problemas com a energia eléctrica são muitos e o sol existe em quantidade.

Chegados ao Uíge, fiquei algo desiludido, habituado a ir a outras capitais de província e encontrar cidades mais limpas, mais arrumadas que Luanda, fiquei desiludido. A cidade tem as ruas em mau estado, tem lixo, tem edifícios muito maltratados e ainda se vêem buracos de balas em alguns edifícios. Aqui fica a fotografia de uma igreja da cidade, como prova da visita.

Pela positiva, fica a imagem da periferia, a cor das casas feitas dos blocos tradicionais desta região cujos "fornos" encontramos até no meio das aldeias.
Os blocos da cor da terra/barro, fazem com que as casas se confundam com o terreno o que emoldurado pelos verdes da vegetação criam uns belos postais.

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